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O seu corpo precisa de mais stress, não de conforto

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O que nos trouxe até este ponto civilizacional foi o stress. O que nos está a deixar mais vulneráveis é o conforto que nos rodeia.

A frase anterior pode parecer dura e, até certo ponto, injusta. O ser humano esforça-se durante toda a vida para acumular conforto. Seja pelos seus bens materiais, como uma cama, o sofá, roupa ou aparelhos electrónicos que facilitam a nossa vida; seja pela ausência de esforço físico.


Vale a pena olhar para trás

Do ponto de vista evolutivo, o stress provocado pelo meio ambiente é essencial para a adaptação das espécies, e o ser humano não é diferente. Há milhões de anos, as mudanças climáticas tornaram as florestas mais pequenas e, com isso, andar maiores distâncias tornou-se uma vantagem nas savanas, onde os alimentos eram mais escassos. Os seres humanos conseguiam fazê-lo, e por isso arrecadavam mais alimentos que os seus primos, os chimpanzés, e outros animais que competiam pela mesma comida.

Adaptações como esta podem parecer relativamente importantes, mas na verdade são fundamentais no percurso das espécies ao longo dos vários milénios. Da mesma forma, é o stress físico, mental e emocional que nos torna mais resilientes e capazes de suportar maiores cargas, sejam elas físicas, mentais ou emocionais.


Sem stress não há vitória

Quantas vezes ouvimos a expressão: “foi ao inferno e voltou, e saiu mais forte”, ou “o que não nos mata, torna-nos mais fortes”. A ausência de desafio é um perigo para qualquer espécie. Perde a sua vantagem evolutiva e, em pouco tempo (milénios), tende a desaparecer.

O mesmo acontece com cada ser humano, individualmente. Se somos fisicamente sedentários, o corpo perde capacidade de responder de forma eficiente aos desafios em que é colocado, seja uma corrida ou levantar algo pesado do chão. Se crescemos sem nunca ter passado por um ou dois grandes desafios emocionais (seja na escola, no desporto ou em contexto familiar), não vamos desenvolver a resistência emocional que a vida adulta exige. Se envelhecemos sem estímulos mentais e cognitivos, os estudos dizem-nos que temos maior risco de sofrer de algum tipo de demência.


Stress vs. Conforto

Vivemos numa contradição não filosófica, mas bastante pragmática. O conforto sabe-nos bem, mas faz-nos mal. O stress sabe-nos mal, mas faz-nos bem. Sair da zona de conforto é das coisas mais difíceis e desconfortáveis para uma pessoa. Mas é justamente esse período de dificuldade que lhe traz vantagens para o futuro, sejas elas físicas, mentais ou emocionais.

Como em quase tudo na vida, o meio termo é a chave para o sucesso. Um pouco de conforto não faz mal a ninguém, e todos apreciamos os momentos de lazer que a vida nos proporciona. Por outro lado, demasiado conforto traz-nos problemas de saúde a todos os níveis.

Da mesma forma, o stress é fundamental para o nosso desenvolvimento. Desde a infância que nos colocamos em situações fora da nossa zona de conforto. Seja começar a andar, a falar ou a escrever, estamos dispostos a errar e tentar de novo. Na vida adulta, vamos ao ginásio e colocamos os nossos músculos sob stress quando levantamos pesos, ou quando corremos na rua. Os tecidos ósseos e musculares danificam-se, inflamam, regeneram e no final deste micro-processo que dura 4 a 6 dias, ficam mais fortes.

Por outro lado, demasiado stress ou stress durante muito tempo é prejudicial. Levantar um peso demasiado grande pode provocar uma lesão. Correr uma maratona quando nunca correu mais de 1 quilómetro não é boa ideia. stress crónico também traz uma série de desvantagens, sejam elas físicas, como por exemplo as lesões por esforço repetitivo (LER); ou emocionais, quando tem um problema que consome a sua energia há vários meses ou anos, gerando ansiedade crónica.

Conclusão

Quanto maior for o seu nível de conforto, mais rapidamente perde capacidade física, mental e emocional. No meio é que está a virtude, por isso não precisa de mandar fora o seu sofá nem as suas cadeiras. Mas lembre-se que, tal como o pássaro que não voa na gaiola perde progressivamente a capacidade de voar longas distâncias, as nossas gaiolas físicas e mentais também nos amputam as nossas capacidades.

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