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Andar descalço – Vantagens vs. Desvantagens

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No meio de tanta informação, é difícil concluir se andar descalço é bom ou mau. Como sempre, a resposta é: depende. Veja as vantagens e desvantagens de andar descalço e decida por si.

Vamos tirar os sapatos?

Hoje em dia muitas pessoas, entre elas profissionais de saúde, falam da importância de andar descalço, por uma série de bons motivos. Fortalece os pés, aumenta a mobilidade e até melhora a postura. Embora não exista muita evidência científica que comprove estas afirmações, podem ser consideradas verdadeiras. No entanto, existem também algumas desvantagens em andar descalço.

Talvez já tenha visto as consequências de usar calçado desadequado, como os sapatos de lótus utilizados por algumas mulheres chinesas. Apesar de ser um caso extremo de sapatos completamente desadequados à anatomia do pé, tanto homens como mulheres no mundo ocidental utilizam sapatos que nem sempre respeitam a forma do nosso pé.

Os riscos associados a andar descalço na rua são bastante conhecidos e não é sobre isso que nos vamos debruçar. Como todos os conselhos, não servem para toda a gente. Veja as vantagens e as desvantagens desta prática e conclua se, para si, faz sentido começar a andar descalço (principalmente em casa).

Vantagens

Recupera a forma natural de andar

Em teoria, andar descalço restaura o nosso padrão de marcha ‘natural’. Isto pode ajudar as pessoas a controlar melhor a posição dos seus pés, a melhorar o equilíbrio, entre outros benefícios potenciais. Sem dúvida, irá aumentar a sua percepção da posição em que os seus pés estão, e isso melhora a relação do seu corpo com o espaço em que está (ou seja, a sua postura).

Pode alargar os seus pés

Para algumas pessoas, isto pode ser uma desvantagem, por considerarem que pés largos são menos elegantes. Aqui falamos apenas de vantagens para o corpo, e não estéticas.

Para ver o pé a alargar, terá de andar muito tempo (e durante muito tempo) descalço, mas de acordo com estudos de populações indígenas que andam habitualmente descalças, não utilizar sapatos ao longo da vida está associado a um formato de pé mais largo, o que faz com que os pés sejam, do ponto de vista biomecânico, mais eficientes (cumprem a sua função com menos gasto energético).

Também diminui os pontos de pressão que normalmente temos debaixo do calcanhar e metatarsos (especialmente o 1º e o 5º), ou seja, o peso fica melhor distribuído. Nós, pessoas ocidentais, diferem muito destas populações indígenas (e a maioria dos indianos descalços), por terem pés relativamente estreitos, com pontos de pressão mais localizados, e com o tempo se tornam possíveis focos de dor e lesão.

Em última análise, embora o estudo tenha concluído que usar sapatos era crucial para atividades como exercício físico, os dados atuais sugerem que o calçado que não respeite a anatomia e a função naturais do pé acaba por transformar a sua forma (anatomia) e o seu comportamento (função).

Pode proteger as suas articulações

Há também alguma evidência de que corredores experientes descalços têm um contacto com o pé (no solo) diferente, que potencialmente os protege de lesões relacionadas com o impacto. “A energia (devido ao impacto) que sobe pela sua perna é cerca de três vezes superior num sapato acolchoado, comparativamente com estar descalço”, disse o investigador Daniel E. Lieberman à Scientific American em 2019. Isto pode afetar as articulações e contribuir para problemas como a artrite.

Pode trazer mais benefícios para a saúde

Andar descalço é uma parte fundamental do “contacto com a terra”. Os supostos benefícios incluem melhor qualidade de sono, redução da dor e inflamação e muito mais. No entanto, não há estudos que comprovem esta teoria. Ainda assim, a sensação de bem estar, calma e outras boas sensações que muitas pessoas referem quando andam descalças é suficiente para incentivar a esta prática. Se não resultar consigo, experimente pilates ou partir pratos.

Desvantagens

Maior risco de lesões

No entanto, há um bom motivo pelo qual a maioria das pessoas não anda descalça no dia a dia: provavelmente vai-se magoar. Desde dar um pontapé com o dedo pequeno numa mobília da casa (muito comum e maior responsável pelas fraturas do dedo mais pequeno do pé), ou pisar um objeto cortante ou ferrugento na rua, as probabilidades de algo correr mal são elevadas.

Para além disso, andar descalço pode exigir dos seus ossos e músculos um tipo de esforço que eles não estão (ainda) preparados para fazer. Andar descalço (em pessoas que não estão habituadas) em superfícies duras é um desafio, e pode provocar dores antes de se habituar.

Pessoalmente, já tive um exemplo disto mesmo. Em março de 2020 os ginásios fecharam e eu passei a treinar em casa. Costumava treinar calçado mas em casa achei boa ideia treinar descalço. Fazia exercícios com saltos e impactos. Comecei a ter dor no pé (já não me recordo qual). 4 dias depois, achei que tinha o pé partido e andava a passear o meu cão (um boxer de 25 quilos) com muita dificuldade.

Se não tem por hábito andar descalço, não comece da noite para o dia. Este é o meu conselho. Os seus pés estão habituados a ter suporte dos sapatos. A biomecânica da sua marcha está adaptada a esse suporte. Ao início, pode sentir dores no calcanhar, na planta do pé, nas canelas e até nos joelhos. Na maior parte dos casos, a habituação leva algum tempo.

Infeções por fungos

Andar sem sapatos – especialmente em locais húmidos como piscinas públicas, chuveiros, etc. – pode aumentar desnecessariamente o risco de infeções fúngicas, como pé de atleta. Este problema é fácil de resolver. Use chinelos em locais públicos como piscinas ou balneários dos ginásios.

Maior risco de queda com a idade

Um estudo publicado em 2010 na revista Footwear Science analisou a relação entre quedas dentro de casa entre 765 idosos participantes, e se eles usavam sapatos, meias ou andavam descalços ao longo do dia. O estudo constatou que, no caso de quedas em casa, mais de metade dos participantes (51,9%) estava descalço, com meias ou chinelos.

Com a idade, perdemos equilíbrio. Um sapato dá-nos mais estabilidade, por isso é que se testar o seu equilíbrio, vai perceber que se safa melhor se estiver calçado. O problema maior é que a maioria das pessoas não foi habituada a andar descalça ao longo da vida. Com idade avançada, junta-se a fome à vontade de comer. Não estamos habituados a andar descalços e temos menos equilíbrio.

No entanto, se estiver habituado a andar descalço e fizer exercícios regulares para ganho de equilíbrio, o risco de queda será muito menor. Se for sedentário, adivinha-se o pior.

Se leu com atenção, pode decidir por si se deve andar descalço (em casa) ou não. Com a pandemia, uma larga percentagem da população começou a trabalhar a partir de casa, o que aumenta o tempo potencial em que anda descalço. Isto pode ser uma vantagem. Mas lembre-se: tão ou mais importante que andar calçado ou descalço, é andar.

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