Já lhe disseram que tem Escoliose porque tem um ombro mais alto do que o outro? Já ouviu dizer que a Escoliose é a causa das suas dores nas costas? Ou talvez já leu que a Escoliose pode ser corrigida com exercícios específicos e que deve evitar outros que não fazem bem. Apesar desta informação ser bem intencionada, não é inteiramente correta.

O que é a Escoliose

É uma curvatura anormal da coluna vista de trás, e que aparece geralmente entre os 10 e os 17 anos de idade. O que pode não saber é que a Escoliose é um problema com 4 dimensões:

– Inclinação: Que é o que provoca a curvatura na coluna. Pode ser em C – em que só há uma curvatura – ou em S – quando tem duas curvaturas.

– Rotação: Se temos uma inclinação à direita, vamos ter uma rotação das vértebras à esquerda. É esta rotação que provoca a chamada “gibosidade” quando se dobra para a frente.

– Lordose: Estas curvaturas normalmente provocam um aumento da lordose, o que faz aumentar a sinuosidade das curvaturas e consequentemente a perda de verticalidade da coluna.

– Achatamento: Provavelmente devido às forças que provocam estas curvaturas, a coluna acaba por ser comprimida, o que agrava a perda de verticalidade da coluna.

Fatores de Risco da Escoliose

É verdade que a maior parte das Escolioses são silenciosas na sua evolução, e por isso é fundamental conhecer os fatores que fazem com que o prognóstico seja menos positivo:

1. Pessoas do sexo feminino
2. Aparecimento da Escoliose antes da Menarca (primeira menstruação)
3. Idade – Quanto mais cedo é diagnosticada pior, pois tem mais anos para evoluir e também pela imaturidade óssea
4. Curvas Duplas – As curvaturas em S tendem a agravar mais do que as curvaturas em C

5 Factos sobre Escoliose que TEM DE SABER

#1. Não se diagnostica a Escoliose só pela postura

Ao olhar para uma pessoa de costas, consegue dizer sem qualquer dúvida que ela tem Escoliose? E quando se dobra para a frente, consegue ter a certeza? O primeiro facto é que não consegue diagnosticar a Escoliose apenas por observar a postura da pessoa, seja de pé ou em movimento.

É um facto que certas alterações como um ombro ou uma anca desnivelados podem criar uma suspeita, isto por si só não é um diagnóstico.

A curvatura da sua coluna tem de ser avaliada através de uma radiografia, utilizando uma medida que se chama o ângulo de Cobb, que é basicamente o ângulo formado pelas duas vértebras mais inclinadas. O diagnóstico de Escoliose é confirmado se este ângulo for igual ou maior que 10 graus e se houver rotação axial da coluna.

O ângulo de Cobb, a sua idade e a localização da curvatura – que normalmente é a lombar, a dorsal ou ambas – são três critérios utilizados para classificar a Escoliose Idiopática. Idiopático significa que a causa da Escoliose não é conhecida.

Estas Escolioses Idiopáticas correspondem a 80% de todos os casos de Escoliose, sendo que os outros 20% são de origem congénita, neuromuscular, entre outras. Uma vez que a maioria das Escolioses são Idiopáticas e ocorrem na adolescência e em adultos, a informação deste vídeo é destinada a estes grupos etários.

Embora possam existir pequenas assimetrias, como um ombro elevado, a anca desnivelada ou o tronco inclinado, isto por si só não é suficiente para diagnosticar alguém com Escoliose.

O mais importante a retirar disto é que você, a sua filha ou alguém que conheça pode ter pequenas assimetrias, o que é perfeitamente normal. Mas isto não significa que tenha Escoliose. Agora para quem tem mesmo Escoliose Idiopática, há algumas perguntas que podemos responder.

#2. As Escolioses ligeiras e moderadas não evoluem nos adultos

Nesta imagem em baixo temos uma jovem de 23 anos com uma Escoliose moderada de 25 graus de ângulo de Cobb. Nos próximos 30 anos, acha que a curvatura dela terá tendência para aumentar, para se manter igual ou para diminuir? Este é o facto nº2: Assim que paramos de crescer, é muito raro uma Escoliose ligeira ou moderada progredir na sua curvatura.

É pouco provável a Escoliose diminuir de forma significativa nos adultos com curvaturas até aos 30 graus, mas também é pouco provável aumentar. Veja qual é o seu caso na imagem que se segue.

Se tiver uma curvatura inferior a 10 graus, lembre-se que isto não é Escoliose não precisa de se preocupar. A grande maioria das Escolioses até aos 30 graus mantêm-se estáveis e não progridem com a idade.

Por outro lado, assim que a curvatura ultrapassa os 30 graus, há maior risco de progredir na fase adulta. E quando passa acima dos 50 graus, é quase certo que estas curvaturas vão progredir. Ou seja, para adultos com Escolioses ligeiras ou moderadas – dos 10 aos 30 graus – a probabilidade da curvatura aumentar é baixa.

Agora, se estivermos a falar de adolescentes, em que a coluna ainda está a crescer, o melhor tratamento deve ser escolhido com base no ângulo de Cobb.

Por exemplo, se a curvatura estiver entre os 15 e os 25 graus, o tratamento deve passar por Fisioterapia, juntamente com a supervisão do médico e com recurso a radiografias periódicas, de 6 em 6 meses ou anualmente, dependendo da avaliação do médico.

Um dos melhores tratamentos que pode escolher é a Reeducação Postural Global (ou RPG), com recurso a posturas estáticas que não só melhoram a mobilidade da coluna, o padrão respiratório e a força dos músculos de predominância estática.

Se a curvatura estiver entre os 25 e os 45 graus, para além da Fisioterapia e da RPG deve utilizar um colete para diminuir a velocidade de progressão da curvatura. Os coletes mais utilizados são os de Boston, embora existam outros.

Nos casos mais severos, a partir dos 45 graus, a cirurgia pode ser uma opção a considerar. Mas lembre-se que esta decisão deve ser multifatorial. Ou seja, temos de ter em conta a idade do adolescente, o ritmo de progressão da Escoliose, outros fatores de risco como o sexo, se a Escoliose apareceu antes da menarca, entre outros.

Da nossa experiência, a principal razão que leva um adolescente a ter de seguir para cirurgia é a falta de comprometimento com o tratamento. Seguir as recomendações do Fisioterapeuta e do médico é essencial, quer seja na utilização do colete, nas sessões de Fisioterapia e no plano de exercícios que leva para casa.

#3. Não há Exercícios milagrosos para a Escoliose

Neste momento, não há exercícios que são superiores a outros para a Escoliose. No entanto, pode haver exercícios melhores para umas pessoas dependendo da condição clínica. Se pesquisar no Google por “exercícios específicos para Escoliose” vai encontrar uma quantidade gigante e variada de exercícios, incluindo de respiração, alongamentos, exercícios posturais, fortalecimento específico, entre muitos outros.

É certo que vão melhorar a sua força, a mobilidade e também reduzir a dor, mas os estudos referem que estes exercícios específicos para a Escoliose não reduzem o Ângulo de Cobb nem evitam a progressão da curvatura na Escoliose do Adolescente.

E isto é muito importante porque nos ajuda a ter expectativas realistas. Se precisa de pelo menos 2 anos para corrigir a posição dos seus dentes com um aparelho, como podemos acreditar que resolvemos este problema com meia dúzia de exercícios, principalmente olhando para a complexidade da coluna, com centenas de músculos e articulações?

Há de facto estudos a confirmar que estes exercícios melhoram a curvatura, mas a diferença não é mais do que 6 graus, para além da qualidade destes estudos ser baixa. Ainda assim, lembre-se que podem ser pouco eficazes para a maioria das pessoas, mas bons para si. Se os riscos forem baixos e os potenciais benefícios forem altos, experimente.

Há estudos que dizem que a Fisioterapia não é eficaz. Pessoalmente não consigo concordar com isto, justamente pela minha experiência clínica. Mas se estivermos a falar daquela Fisioterapia dos ultra-sons, laser, calor e massagem nas costas, não tenho dúvidas que a Escoliose vai piorar.

Por isto tudo, há duas coisas a salientar neste ponto. A primeira é que, independentemente de a Fisioterapia e os exercícios conseguirem reduzir a Escoliose, deve mantê-los com o objetivo de melhorar a função em geral, desde a força à mobilidade.

A segunda é que não há um conjunto específico de exercícios que são bons para todas as pessoas com Escoliose. Às vezes a força está muito comprometida, e em outras situações o principal problema é a falta de mobilidade. Procure um fisioterapeuta que faça uma boa avaliação e perceba as suas maiores necessidades.

Para além disso, mantenha-se fisicamente ativo com um desporto ou atividade física que goste, porque se não gosta do que está a fazer, é provável que desista.

#4. A Escoliose NÃO aumenta o risco de ter Dores nas Costas

Embora possa acreditar que tem maior risco de ter dores nas costas se tiver Escoliose, na verdade o risco é igual. De acordo com a Scoliosis Research Society, os adolescentes com Escoliose tem a mesma probabilidade de ter dores nas costas que os adolescentes que não têm Escoliose. E também referem que os adultos com menos de 30 graus de Escoliose têm o mesmo risco de ter dores nas costas que os adultos sem Escoliose.

Todas as pessoas que tratámos com Escoliose e que tinham dor, deixaram de ter dores nas costas. Em algumas pessoas a Escoliose melhorou, noutras aumentou, mas na grande maioria das situações, a Escoliose ficou igual. E isto leva-nos ao quarto facto: A Escoliose ligeira ou moderada não causa dores nas costas, nem agrava o risco de as ter.

Embora a Escoliose possa ser um fator a ter em conta, devemos olhar para a condição clínica completa do adolescente ou do adulto, até porque a dor é multifatorial.

Como pode ver neste gráfico, há muitos fatores associados à dor. Qualquer um deles pode agravar ou até causar as suas dores, e por isso é que dizer que a Escoliose pode estar correlacionada com dores, não quer dizer que sejam a causa das dores.

Isto quer dizer que não é preciso reduzir o ângulo da curvatura da Escoliose para eliminar as suas dores nas costas. Significa isto que não há nada que possa fazer? De maneira alguma. O meu conselho é que se foque em 3 coisas que pode controlar:

1. Atividade Física
2. Reduzir o Stress
3. Melhorar a qualidade de sono

#5. Pode fazer qualquer Atividade Física

Não há atividades nem exercícios que estejam eliminados à partida. As últimas orientações dadas pela Scoliosis Research Society, em 2016, recomendam que as pessoas com Escoliose se mantenham fisicamente ativas, principalmente porque a participação nestas atividades não parece afetar o aparecimento ou gravidade da Escoliose.

Ou seja, pode correr, nadar, levantar pesos, ou fazer qualquer outra atividade de que goste. Pode até praticar desportos de alta competição. Vejamos o exemplo de Lamar Gant, um recordista mundial de halterofilismo com Escoliose severa.

Temos também o exemplo de Jessica Ashwood, uma nadadora olímpica e recordista australiana, e que teve uma série de conquistas com uma Escoliose que podemos considerar severa.

O próprio Usain Bolt foi bastante honesto acerca da sua Escoliose, ao afirmar que sempre tentou fortalecer o seu core e as suas costas e que isso o ajudou muito na sua carreira de velocista. Esperamos que estes exemplos ajudem a reforçar a ideia de que ter Escoliose não é uma sentença e que não impedem de fazer o desporto ou atividade que mais gosta.

Esperar é a Pior Solução

Terminamos este artigo com uma informação que é fundamental para os adolescentes que têm uma Escoliose com menos de 25 graus. Muitos profissionais de saúde vão dizer, neste caso, que deve esperar, e supervisionar a Escoliose nos próximos meses.

Mas este é capaz de ser um dos maiores erros que pode fazer. Este conselho é válido para curvaturas inferiores a 10 graus. Ainda não são Escolioses mas o risco de evoluírem exige uma supervisão regular.

Mas para Escolioses entre os 10 e os 25 graus, ficar quieto não é bom. Faça esta pergunta: qual é a melhor altura para tratar qualquer problema de saúde: é no início ou quando a doença já está avançada?

Embora seja um raciocínio óbvio, não o utilizamos na Escoliose. A melhor altura para começar a tratá-la é quando ainda está no início.

O objetivo do tratamento não é eliminar a curvatura, isso não é possível (a não ser com cirurgia). Mas mesmo com cirurgia, quando a pessoa retira o material que estabiliza a coluna, a Escoliose pode aparecer novamente. E para além disto, a fusão das vértebras pode deixar a coluna mais direita, mas vai perder muita mobilidade.

Infelizmente, a abordagem tradicional da nossa medicina relativamente à Escoliose direciona as pessoas para a cirurgia, porque não se faz nada enquanto as curvaturas ainda são ligeiras ou moderadas. É uma abordagem reativa, e nós temos de aproveitar enquanto a Escoliose está na fase inicial, porque depois disso é difícil evitar a cirurgia.

Por isso, se conhece algum adolescente com uma Escoliose entre os 10 e os 25 graus, recomende uma consulta com um Fisioterapeuta Especialista em Escolioses. Se precisar da nossa ajuda, fale connosco através dos contactos que estão no site da FisioMoço.

Fale também com o seu ortopedista ou com o pediatra do seu filho porque o tratamento deve ser multidisciplinar, todos os profissionais de saúde devem trocar ideias para contribuir para a melhor reabilitação possível.