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O que causa a degeneração dos seus discos da coluna?

É um fenómeno muito comum. Se fizer um exame à sua coluna, dependendo da sua idade, vai encontrar uma ou mais alterações nos seus discos da coluna, desde a desidratação até à hérnia discal. Quais são os fatores de risco para este problema?

Não pense que a degeneração dos discos da sua coluna é uma alteração que só acontece na velhice. Muitas pessoas a partir dos 20 anos já apresentam estas alterações, como degeneração dos discos (37%), protusão do disco (29%) ou até perda da altura do disco (24%).

Mas por que razão isto acontece tão cedo na vida, e quais os fatores que são causadores?

Andar de pé tem desvantagens

A evolução traz coisas boas e outras menos boas. Deu-nos a capacidade de andar ou correr maiores distâncias, estar menos expostos ao sol (só apanhamos sol na cabeça e nos ombros, e na savana, isto é uma vantagem) e avistar com mais facilidade os predadores que nos queriam tornar no seu almoço.

No entanto, a pressão que a gravidade exerce sobre uma coluna vertical é diferente da pressão que exerce sobre uma coluna que está na posição horizontal. Este não é o fator mais importante, porque as pessoas que ainda têm o estilo de vida de caçador recoletor hoje em dia, para além de sofrerem muito menos de dores nas costas, em princípio não apresentam tantas alterações na coluna como nós. Por isto mesmo, percebe-se porque é que as alterações degenerativas nos discos da coluna são tão frequentes na população ocidental.

O princípio do fim

Como sempre, nunca é apenas um fator a causar um problema de saúde. Normalmente, é um conjunto de situações que vão gradualmente agravando o estado de saúde de um determinado órgão ou estrutura.

apoptose é quase sempre o ponto de partida para a degeneração de qualquer tecido no nosso corpo. Este fenómeno é definido como a morte programada das células. Os fatores de risco aumentam a velocidade a que se dá a apoptose, e faz com que a criação de novo tecido não seja rápida o suficiente para substituir as células que morrem.

Fatores de risco para dar e vender

Quais são então os fatores que aumentam a velocidade da apoptose?

  • Perda da altura do disco – Por sua vez, e juntamente com a degeneração discal, esta perda de altura aumenta o risco de ter Osteoporose;
  • Alterações Modic – São lesões na medula óssea, que pode ir do nível 1 (o mais ligeiro), em que há inflamação e edema ao redor e na própria vértebra, até ao nível 3 (o mais grave), já com lesão e pequenas fraturas na estrutura óssea das vértebras. Estas lesões na vértebra aumentam o risco de ter degeneração no disco;
  • Amplitude de movimento – Os estudos são bastante claros. Quanto menos movimento a coluna tiver, maior o risco de degeneração;
  • Hereditariedade – A culpa é dos seus pais, avós, bisavós… Neste estudo, gémeos monozigóticos (verdadeiros) com profissões completamente diferentes apresentaram níveis semelhantes de degeneração dos discos;
  • Variantes genéticas (COL11A1) – Alterações a nível genético podem contribuir para o aparecimento ou agravamento da degeneração dos discos, assim como a desregulação do MicroRNA;
  • Obesidade – É um fator de risco para a grande maioria das doenças crónicas e não contagiosas atuais. A inflamação aumenta com o excesso de tecido adiposo (gordura) e provoca lesões e danos estruturais em todos os órgãos e tecidos, inclusive nos discos intervertebrais;
  • Polimorfismo no gene receptor de vitamina D (Fokl) – É preciso mais investigação, mas aparentemente o polimorfismo deste gene receptor de vitamina D pode aumentar o risco de degeneração discal.

Deve preocupar-se?

Nim.

Ter discos a ficarem estragados não é uma boa notícia. Quanto mais alterações nos discos tiver, maior a probabilidade de vir a ter dores nessa zona.

No entanto, ter estas alterações não é uma sentença. 93% das pessoas acima dos 70 anos têm degeneração discal. Aos 50 anos, a probabilidade é de 80%. Quase 40% dos jovens de 20 anos têm este problema.

A conclusão é simples: É preferível não ter degeneração discal mas, no caso de ter, mantenha um bom estilo de vida para que se mantenha saudável e sem dores.

Referências Bibliográficas

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