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Como Tratar a Síndrome de Fricção da Banda Iliotibial

Neste artigo explicamos como tratar a Dor da Banda Iliotibial, também conhecida como Síndrome de Fricção da Banda Iliotibial.

O que é a Banda Iliotibial

O nome “banda iliotibial” deriva da sua origem e inserção, neste caso no osso íliaco, em cima, e a tíbia em baixo. Resulta do espessamento da fáscia lata – que é a fáscia profunda que envolve a coxa.

Para além da sua origem na pélvis, esta banda recebe fibras de dois músculos da anca: o tensor da fáscia lata e do glúteo maior. Ao percorrer a coxa, a banda iliotibial vai inserir-se no fémur, na patela e na tíbia.

A principal função desta banda é a estabilização da anca e do joelho, para além de armazenar e libertar energia de forma a que a caminhada e a corrida se tornem mais eficientes do ponto de vista energético.

Como Tratar a Síndrome de Fricção da Banda Iliotibial

Síndrome de Fricção da Banda Iliotibial

A Síndrome de Fricção da Banda Iliotibial foi inicialmente descrito por um senhor chamado James Wren, em 1975, que se baseou nas suas observações clínicas nos militares que tinham dor lateral do joelho durante a caminhada ou corrida depois de terem feito corridas de longa distância.

Ele reparou que todos estes militares tinham desconforto no côndilo lateral do fémur, na parte de fora do joelho. Também descobriu que conseguia reproduzir os sintomas destes militares se lhes pedisse para ficarem apoiados na perna magoada e dobrassem o joelho 30 ou 40 graus.

Com estas descobertas e também com base na anatomia, ele concluiu que a banda iliotibial estava a ser friccionada contra o côndilo lateral do fémur, o que provocava irritação e inflamação.

Um estudo em 1978 confirmou esta teoria, assim como outro de 1979. Ao longo dos anos, acreditou-se que a tensão da banda iliotibial era um dos principais fatores que provocavam este problema, e que é avaliado ainda hoje com o Teste de Ober. Se este teste fosse positivo, então a banda iliotibial tinha de ser alongada e massajada para quebrar o tecido cicatricial e libertar as aderências.

No entanto, o nosso entendimento sobre a banda iliotibial evoluiu. Por exemplo, dois estudos de 2006 e 2007 concluíram que a perceção que temos do movimento da banda iliotibial no côndilo lateral do fémur é uma ilusão provocada pela alteração de tensão nas várias fibras durante a flexão e extensão do joelho.

De acordo com as investigações anatómicas que têm sido feitas, a banda iliotibal está bem agarrada ao fémur, e por isso não é possível haver fricção. Um estudo de 2016 concluiu que o Teste de Ober não consegue avaliar a tensão da banda iliotibial. Para além destas descobertas, outros estudos têm vindo a confirmar que é muito improvável conseguirmos alongar ou deformar a banda iliotibial.

Por estas razões, os tratamentos não devem tentar alterar a estrutura desta banda, visto que é quase impossível fazê-lo e também inútil.

Como Tratar a Síndrome de Fricção da Banda Iliotibial

Dor na Banda Iliotibial

Se não é a fricção que está a causar os sintomas, o que poderá ser? A teoria que é mais aceite neste momento é proposta por estes dois estudos de 1996 e 2006, em que o tecido adiposo – ou seja gordura, um tecido muito sensível – que está por baixo desta banda está a ser comprimido durante atividades repetitivas de flexão do joelho entre os 20 e os 30 graus – como por exemplo na corrida.

Agora porque é que umas pessoas têm dores e outras não? Podemos usar uma matriz simples baseada num estudo de 1996, chamada “Envelope de Função”, que está descrito como “um método para representar a capacidade funcional do joelho e de outras articulações para aceitar transferências e dissipar cargas”.

Como Tratar a Síndrome de Fricção da Banda Iliotibial

No gráfico em baixo temos a carga no eixo vertical e a frequência com que faz essa carga no eixo horizontal. Partindo do princípio que treina algumas vezes por semana – digamos 3 – terá uma determinada capacidade para colocar carga nos seus joelhos sem que eles deem sintomas ou lesões. Talvez consiga correr 5km, agachar com 30kg às costas.

Se parar de fazer estas cargas durante uns meses, a sua capacidade física vai diminuir, tal como a capacidade que tem de aguentar estes esforços. Se treinar regularmente e com progressão de cargas, a sua capacidade irá aumentar, assim como a capacidade para aguentar mais esforço. Mas se fizer um treino em que a carga ultrapassa a sua capacidade, como por exemplo correr 20km ou agachar com 80kg às costas, é provável que se lesione ou tenha dores.

E embora isto possa ser generalizado para o corpo todo, é especialmente verdade com a banda iliotibial. Esforça demasiado esta estrutura e é quase certo ela dar sinal.

A boa notícia aqui é que o veneno acaba por ser o antídoto. Quer seja corredor, ciclista, ou levanta pesos no ginásio, a primeira coisa que deve fazer é reduzir a carga, seja pela intensidade, pelo volume ou pela frequência dos seus treinos, até chegar a um nível que consiga tolerar sem ter dores. É provável que tenha de dar um passo atrás e com isto atrasar o seu progresso, mas nesta fase é necessário.

Ainda assim, não faça repouso completo. Tente também substituir as atividades que não consegue fazer por outras que sejam toleráveis, de forma a não perder muita capacidade física.

Como Tratar a Síndrome de Fricção da Banda Iliotibial

Corrida na Síndrome de Fricção da Banda Iliotibial

Se é corredor, é aconselhável reduzir as corridas em declives negativos (a descer), as corridas em trail e também em superfícies irregulares, como na praia ou na serra. Portanto quanto mais a direito e regular o piso for, melhor. Ainda assim, perceba o que resulta melhor consigo.

Vale a pena salientar que se tiver dor a correr não nas descidas, mas nas subidas, e em grandes velocidades, é provável que não tenha dor na banda iliotibial, mas sim uma Tendinopatia do Bicípite Femoral, um dos músculos ísquiotibiais, na parte de trás da coxa.

Para além deste problema, as lesões no menisco lateral (portanto do lado de fora) também dão dores na zona lateral do joelho, principalmente quando corre em superfícies duras, quando faz o agachamento completo e costuma dar rigidez matinal no joelho. Mas geralmente só aparece a partir dos 40 anos.

Mas voltemos à banda iliotibial. Embora a gestão das cargas e a modificação de algumas atividades sejam as prioridades nesta situação, a reeducação na corrida pode ter um papel relevante em algumas pessoas. Um estudo de 2007 descobriu que mulheres corredoras que têm dor na banda iliotibial têm também muito mais adução da anca e rotação interna do joelho enquanto correm.

Como Tratar a Síndrome de Fricção da Banda Iliotibial

Outro estudo de 2008 concluiu que a tensão da banda iliotibial na perna afetada era maior do que na perna não afetada e também que nos grupos de controlo. Aqui, o termo tensão não se refere a encurtamento, mas sim à tensão mecânica que é exercida sobre a banda iliotibial. Ainda outro estudo em 2012 descobriu que correr com menor largura do passo aumenta a tensão da banda iliotibial.

Por fim, um estudo em 2015 concluiu que a diminuição do comprimento da passada leva a um aumento da largura do passo e também à diminuição da adução da anca, o que por sua vez faz diminuir a tensão da banda iliotibial.

Por isso, uma estratégia simples que pode utilizar para reduzir a carga no seu joelho enquanto corre é aumentar a cadência da corrida em 5 ou 10%, o que vai provocar uma redução do comprimento da passada, aumentar a largura do passo, reduzir a adução da anca e com isto diminuir a tensão na banda iliotibial.

Como Tratar a Síndrome de Fricção da Banda Iliotibial

Exercícios na Síndrome de Fricção da Banda Iliotibial

Agora, em que medida a Fisioterapia e os exercícios podem ser úteis? Desde 1995 que vários estudos têm concluído que as pessoas com dor na banda iliotibial têm fraqueza muscular na anca e no joelho. No entanto, há alguns estudos que contrariam esta ideia e dizem que esta fraqueza muscular pode ser uma consequência e não a causa do problema.

Por esta razão, a Fisioterapia e os exercícios devem ter dois objetivos:

  1. Treinar os músculos perto destas articulações e os movimentos mais associados à corrida para estar à altura do desafio
  2. Aumentar a tolerância à carga do seu joelho em posições que normalmente agravam a dor na banda iliotibial

No vídeo que se segue vou dar-lhe duas opções de progressão em cada categoria de exercícios para ter mais variedade e escolher aquela que funcionar melhor consigo, tendo em conta as suas necessidades e as suas preferências.

Por exemplo, se tem joelhos valgos, os exercícios para os glúteos vão ser muito úteis para si. Por outro lado, se tiver joelhos varos – mais comum nos homens – terá de se focar noutras componentes, como a biomecânica da sua corrida, corrigir erros técnicos do seu treino ou trabalhar algum possível défice neuromuscular.

Pode ver os exercícios que ajudam os nossos utentes a partir do minuto 10:12.

Estes exercícios não são especiais nem são melhores do que outros. Mas é de facto um plano que permite uma progressão consistente de forma a sobrecarregar gradualmente a articulação patelofemoral.

Guia para o Tratamento das suas Dores no Joelho

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