Como Tratar a Tendinite Patelar

O que é a Tendinite Patelar

O quadricípite é um conjunto de 4 músculos: vasto medial (ou interno), vasto lateral (ou externo), vasto intermédio (ou crural) e reto femoral (ou anterior).

Estes músculos juntam-se perto do joelho e formam o tendão quadricipital, que se insere na rótula (ou patela). Depois disso inserem-se na tuberosidade anterior da tíbia, através de um tendão chamado tendão patelar, ou rotuliano. A sua principal função nesta zona é a extensão do joelho.

A Tendinite Patelar é a inflamação deste tendão. Mas nem sempre há inflamação quando tem dores nesta zona, por isso o termo Tendinopatia é mais adequado, que se refere à dor persistente no tendão e perda da capacidade devido à carga excessiva. Pode também já ter ouvido falar em Joelho de Saltador, porque há muitos atletas de voleibol e de basquetebol que têm este problema.

Porque tem Tendinite Patelar

Esta é a pergunta mais difícil de responder, porque há várias causas possíveis. Segundo os últimos estudos, a causa mais provável é o excesso de carga sobre o tendão. Em termos simples, esforçou mais do que o tendão consegue aguentar e, por isso, tem dor.

A inflamação é um fator nestas lesões, assim como as alterações da própria estrutura do tendão. Mas, segundo os estudos, não são os fatores principais, porque muitas vezes tem inflamação no tendão da outra perna e não tem dor.

Diagnóstico da Tendinite Patelar

Para assegurar que tem mesmo o diagnóstico de Tendinopatia Patelar, tem de ter dor no tendão patelar e também perda da função – por exemplo falta de força – associada ao esforço físico.

A dor deve incidir no tendão patelar, que está por baixo da patela, que tendem a agravar com o aumento das cargas e do esforço em geral. Por exemplo, o agachamento só com um pé vai doer mais do que se agachar com as duas pernas. Também é expectável ter mais dor com um salto do que com um agachamento, devido à velocidade do exercício.

Isto acontece porque este tendão é mais afetado pela velocidade do exercício e também pelo ritmo das cargas. Estes detalhes são muito importantes para selecionar os exercícios mais indicados no início da recuperação.

Como tratar a Tendinite Patelar

Os dois principais objetivos da reabilitação são:

1. Melhorar a tolerância às várias formas de esforço físico
2. Recuperar a função do mecanismo extensor do joelho, da cadeia cinética de movimento e da pessoa na sua globalidade

Muitas das intervenções têm como objetivo alterar a estrutura do joelho ou da patela – o que na maior parte dos casos significa tentar combater o envelhecimento destes tecidos – mas não nos podemos esquecer que estas alterações “anormais” são na verdade bastante comuns.

Um estudo de 2018 confirmou isto ao descobrir que podemos melhorar os sintomas com um programa de reabilitação de 4 semanas, apesar de nos exames não se verificar qualquer melhoria na estrutura dos tendões.

Podemos olhar para isto através da frase cunhada pelo investigador Sean Docking, que diz: “Trata o donut e não o buraco”. O buraco refere-se à zona do tendão que tem alterações estruturais observadas no exame, enquanto que o donut se refere ao resto do tendão que está saudável.

Não é completamente irrevelante, mas a forma como o tendão se apresenta do ponto de vista estrutural é pouco importante para o processo de reabilitação. Para além disso, se o tendão está mais espesso, isso até é um bom sinal.

Um estudo de 2020 concluiu que a grande maioria dos tendões estruturalmente “anormais” têm a mesma ou até maior quantidade de tecido tendinoso organizado, devido a um mecanismo de compensação para manter o equilíbrio do tecido.

Por isso, simplifique os objetivos da sua recuperação. Aumente a tolerância ao esforço e recupere a força, mobilidade e flexibilidade dos tecidos musculares e das articulações.

Gestão da Dor na Tendinite Patelar

Outro aspeto importante é a gestão da dor durante a recuperação. Deve evitar a dor ou faz sentido forçar um pouco durante os exercícios?

Alguns estudos sugerem que se aumente a dificuldade dos exercícios caso sinta um alívio nas dores. Um estudo em 2007 deu o pontapé de saída para o modelo que é mais popular atualmente, que recomenda tolerar alguma dor durante os exercícios.

Claro que isto é muito subjetivo. Para si, uma dor moderada pode ser perfeitamente aceitável, mas outra pessoa pode só aguentar uma dor ligeira durante o exercício. Não há propriamente uma receita para todas as pessoas, mas há estratégias que pode utilizar e perceber o que funciona melhor consigo.

Não é só durante o exercício que deve avaliar a sua dor, mas também imediatamente a seguir e no dia seguinte. Faça estas 3 perguntas:

1. A minha dor durante o exercício é tolerável? Pode usar a Escala Visual Analógica (EVA) e classificar a sua dor de 0 a 10 e perceba qual é o máximo que pode tolerar. Eu recomendo que aceite um 3 em 10, mas a decisão é sempre sua.
2. A minha dor está melhor, igual ou pior após o exercício? Na Tendinopatia Patelar pode ocorrer o Fenómeno do Aquecimento, em que a dor alivia com o exercício. Por isso é possível que se sinta melhor depois do exercício.
3. A minha dor está melhor, igual ou pior no dia seguinte? Esta pergunta é importante porque lhe diz se os parâmetros de treino estão adequados. Se a dor aumenta no dia seguinte, é porque a carga, o volume ou a frequência dos exercícios são exagerados e tem de os diminuir.

Resumindo, não precisa de evitar a dor durante o exercício e até pode aceitar algum nível de desconforto, desde que esteja confortável e sinta que não agrava as dores no dia seguinte.

Gestão da Carga e Modificação das Atividades Diárias na Tendinite Patelar

A Tendinopatia Patelar, tal como a Tendinopatia do Epicôndilo Lateral (ou Cotovelo de Tenista), acontece quando a carga, o volume ou a frequência dos seus exercícios estão acima da capacidade que o tendão tem para recuperar a adaptar-se ao esforço.

Imagine o seguinte cenário: tem um pico de atividade durante um treino ou em alguma tarefa diária, e isto provoca sintomas no seu joelho. Por isso decide fazer repouso completo e os seus sintomas desaparecem. Ótimo! Depois percebe que exagerou naquele treino e decide reduzir um pouco a dificuldade. Ainda assim, volta a ter um pico de dor, repousa até a dor desaparecer e repete este processo até que os seus níveis de atividade se tornam muito baixos.

Isto é muito comum acontecer, principalmente porque acreditamos que a dor é uma coisa negativa. Este é o problema de usar a dor como o seu principal parâmetro para medir o sucesso do plano de recuperação.

Mas esta não é a melhor forma de abordar a Tendinopatia Patelar, porque a recuperação pode demorar 3 meses, 6 meses ou até mais de um ano. Os seus sintomas variam de dia para dia e não são lineares. Ou seja, um dia está melhor e no seguinte pode ter algumas queixas.

O parâmetro principal que deve usar para medir o sucesso da recuperação é a sua função: ou seja, força, resistência e mobilidade. Em vez de evitar as dores, perceba que são apenas um indicador que lhe diz se está a progredir muito rápido ou a abusar no volume de exercícios.

Um exemplo prático disto: se correr hoje com uma dor 3 em 10, e 3 meses antes também tinha a mesma dor 3 em 10, pode achar que não está melhor. Mas hoje corre 5km e há 3 meses corria 2km. Isto é uma grande melhoria, mas se se focar apenas na dor, não dá conta.

Resumindo, a dor não é para eliminar, é para gerir enquanto ganha tolerância ao esforço e também para ter a noção se está a puxar demasiado pelo tendão naquele momento.

Se for preciso reduzir algum exercício, atividade física ou tarefa, deve fazê-lo – mas apenas temporariamente – e se puder substitua esta atividade por outra que não agrave os seus sintomas.

Exercícios para a Tendinite Patelar

Comece com exercícios isométricos, ou seja, contração muscular sem movimento. Pode-se considerar este nível como nível 0, porque não precisa de começar por aqui, pode iniciar com os exercícios com movimento. A grande vantagem é que os isométricos têm um efeito analgésico e normalmente são fáceis de fazer e tolerar.

Pode ver os exercícios que costumam ter bons resultados nos nossos utentes a partir do minuto 9:28.

Tudo isto são orientações e não regras rígidas que deve seguir sem sentido crítico. Nem todas as pessoas precisam de passar por todas as fases. Se quiser fazer apenas umas caminhadas, as fases 2 e 3 não serão necessárias.

Cirurgia, Injeções e outros Tratamentos na Tendinite Patelar

O objetivo da reabilitação não é reduzir a inflamação nem alterar a estrutura do tendão. E por este motivo, muitos destes tratamentos não fazem sentido. Para além disso, os estudos também não os apoiam.

Um estudo de 2006 descobriu que a cirurgia não traz nenhuma vantagem em comparação com o treino de força. Outro estudo de 2019 concluiu que, quando combinado com um programa de exercício, o plasma enriquecido em plaquetas não era mais eficaz do que uma solução salina.

Relativamente às terapias por ondas de choque, um estudo em 2011 descobriu que não é mais eficaz do que placebo ou fazer exercício.

Se estiver a pensar em injeções de corticoesteróides, tem-se percebido de que têm pouca eficácia no longo prazo. E já que estamos nas injeções, um estudo de 2014 descobriu que as injeções de glucocorticóides podem provocar danos de longo prazo no tecido do tendão e nas próprias células do tecido.

E relativamente às pistolas de massagem, gelo ou outras terapias deste género? Bom, se os custos e os riscos forem baixos, pode experimentar qualquer destas terapias. E a verdade é que, por vezes, há tratamentos que têm melhores resultados do que estamos à espera. Ainda assim, devem ser feitos em conjugação com a Fisioterapia.