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A corrida provoca lesões nos joelhos: Verdade ou Mito?

Esta frase reflete a ideia de que o nosso corpo é frágil e precisa de ser protegido, o que não é verdade. Já pensou há quanto tempo o ser humano corre?

Já não somos caçadores recoletores, mas fomos durante mais de 2 milhões de anos. O nosso corpo está preparado para correr. Basta tomar atenção aos pormenores. Desde as nossas abundantes glândulas sudoríparas aos tendões de Aquiles (tendão que liga os músculos gémeos ao calcanhar), das grandes articulações dos joelhos ao músculo grande glúteo, a anatomia e fisiologia humana parece perfeitamente “desenhada” para correr. Os caçadores recoletores que ainda existem hoje utilizam a corrida como modo de caçar. Perseguem as presas durante horas, até que estas entram em exaustão, tornando-se um alvo fácil. Vamos ver o que a ciência diz sobre este assunto.

Uma revisão de vários estudos feita em 2006 conclui que “níveis moderados de corrida não aumentam o risco de osteoartrite dos joelhos e ancas para pessoas saudáveis e que, esta atividade pode até ter um efeito protetor.” E acrescentam:

Os riscos associados à corrida devem ser contrabalançados com os tremendos benefícios dessa atividade para os outros sistemas do corpo. Correr demonstrou diminuir o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e depressão. Este tipo de atividade física também ajuda no controlo do peso, a melhorar a densidade óssea e a diminuir a mortalidade.

Outro estudo de 2008 concluiu que “a corrida de longa distância em idosos saudáveis não foi associada à Osteoartrite (OA). Estes dados levantam a possibilidade de que a OA grave pode ser tão comum em corredores como em não-corredores” (21).

Uma revisão sistemática de 25 artigos, abrangendo mais de 125.000 indivíduos, revelou que a prevalência geral de OA da anca ou joelho é de 10,2% em não corredores, 3,5% em corredores “recreativos” e 13,3% em corredores “competitivos” (como os profissionais, atletas de elite ou ex-elite).

“Como assim, 3,5% em corredores moderados e mais de 10% em não corredores?”

Por outras palavras, a corrida (para a grande maioria das pessoas) não tem relação de causa-efeito com o início da OA do joelho. Vou repetir. Corredores recreativos desenvolvem OA de joelho com um terço da frequência das pessoas sedentárias.

Ficou surpreendido? Da próxima vez que vir uma pessoa a correr, em vez de ter pena dos joelhos da “infeliz”, junte-se a ela!

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Referências Bibliográficas

Richter, D., Grun, R., Joannes-Boyau, R., Steele, T. E., Amani, F., Rue, M., et al. 2017. The age of the hominin fossils from Jebel Irhoud, Morocco, and the origins of the Middle Stone Age. Nature 546:293–6. doi: 10.1038/nature22335

Ingfei Chen. Born to Run – Humans can outrun nearly every other animal on the planet over long distances. 28 Maio 2006. https://www.discovermagazine.com/planet-earth/born-to-run. Acesso a 3 Setembro 2020

Cymet T.C., Sinkov V. Does Long-Distance Running Cause Osteoarthritis? JAOA. Vol 106. No 6. June 2006

Eliza F. et al. Long Distance Running and Knee Osteoarthritis: A Prospective Study. American Journal of Preventive Medicine. Volume 35, Issue 2, August 2008, Pages 133-138

Alentorn-Geli, Eduard et.al. “The Association of Recreational and Competitive Running with Hip and Knee Osteoarthritis: A Systematic Review and Meta-analysis” Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy 2017 47:6, 373-390

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