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Os 5 maiores mitos sobre Dor Ciática

Provavelmente já teve, ou alguém que conhece já sofreu deste problema. É uma forma meio genérica de definir aquela dor que pode começar na zona lombar, na nádega ou mesmo na perna, e que se pode prolongar até aos dedos dos pés. Mas será que o que ouviu é verdade? Hoje trago-lhe os 5 mitos mais populares sobre Dor Ciática.

1. A cirurgia nunca é necessária

A primeira coisa a fazer é quase sempre tratamento conservador. Nem todos precisam de cirurgia, mas uma pequena minoria pode precisar. Se tiver problemas neurológicos (formigueiros, dormências, perda significativa de força) de forma persistente, e a fisioterapia não está a ajudar, deve consultar um neurocirurgião.

Alguns estudos recentes mostraram que a cirurgia proporciona uma redução rápida da dor e da incapacidade em 3 e 6 meses. No entanto, a fisioterapia tem resultados semelhantes em longo prazo. Por isso, deve aconselhar-se com o seu fisioterapeuta e neurocirurgião, para tomarem uma decisão em conjunto. tendo em conta as suas preferências e, também, se a redução da dor no curto prazo pela cirurgia é o que procura (ou precisa). Então, não é honesto dizer que a cirurgia nunca é necessária.

2. De certeza que vai ficar melhor

O papel do seu fisioterapeuta passa por dar-lhe os melhores cuidados e a informação mais correta e honesta consoante a sua condição clínica. Infelizmente, algumas pessoas com dor radicular (ou dor do tipo ciática) podem não melhorar completamente. Estima-se que um terço das pessoas com dor ciática vai ter dor persistente e incapacidade que durará entre 1 a 4 anos.

Não fique excessivamente preocupado(a). A maioria das pessoas com este tipo de dor tem um prognóstico favorável. Mas a maioria das pessoas não são todas as pessoas. E numa sociedade onde estamos cada vez mais sedentários e obesos, este tipo de dores só tem tendência para aumentar, e os casos em que a fisioterapia ou outro tratamento conservador não são eficazes podem tornar-se mais comuns.

3. Se não se começar a mexer, não vai ficar melhor

É importante não confundir o tratamento da dor radicular aguda (ciática com poucos dias de evolução) com outras condições, como a dor lombar não específica. Para estas últimas, movimento é o que se quer. Para as primeiras (com dor aguda), o movimento pode ser muito doloroso e, por isso, desaconselhado.

A dor aguda é frustrante e pode levar ao cansaço mental e emocional. Fazer uma data de exercícios nesta fase não vai ajudar. Há estudos que sugerem que, nestas fases agudas, fazer menos é melhor. É importante saber quando é melhor não fazer nada, e às vezes é preferível uma abordagem de descanso e relaxamento. Não tenha sentimentos de culpa se sentir que o seu corpo lhe está a pedir um pouco de repouso temporário.

Um estudo de 2018 concluiu que curtos períodos de recuperação na cama como estratégia de controlo da dor podem não ser contra-indicados devido à falta de benefício de outras opções. Portanto, “nunca deve descansar” é um mito.

4. Experimente só este exercício

Se pesquisar “melhor exercício para ciática” no Dr. Google vai encontrar 8 milhões de resultados! Tem tudo para dar asneira. Todos estes artigos e vídeos dizem-lhe que há um exercício (ou um conjunto de exercícios) que são os melhores, e todos os outros são contra-indicados.

Infelizmente, não há um! A atividade física geral parece ser tão ou mais benéfica como os exercícios específicos. O seu fisioterapeuta deve ajudar com recurso às duas componentes, tanto a específica como a geral são importantes para a sua recuperação. Explique os movimentos que são mais comuns no seu dia. Os exercícios terapêuticos devem ser semelhantes ao que faz normalmente. Esta será a melhor receita para ser consistente.

Portanto, a melhor forma de exercício é aquela que você faz a longo prazo. O “exercício único e específico para dor ciática” é um mito.

5. A culpa é sempre do músculo Piramidal

A síndrome do músculo piramidal é o bode expiatório da dor ciática há muitos anos. Os estudos mais recentes sugerem que as características mais comuns desta dor são:

  • dor unilateral nas nádegas;
  • dor ao sentar-se durante muito tempo seguido;
  • aumento da sensibilidade e dor ao toque.

Infelizmente, estes também são sintomas clássicos de uma patologia da raíz nervosa lombar. Só porque é sentido na nádega, não significa que a fonte do problema seja a nádega.

Isto significa que a síndrome do piramidal é um mito? Nem sempre, mas pense na quantidade de músculos que prendem nervos noutra zona do seu corpo. Não é comum, e seria estranho que nesta região, um músculo estragasse a boa reputação da relação entre músculos e nervos.

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