Tem pés planos? Saiba como tratar!

O pé plano é uma deformidade comum, que se refere à perda do arco interno do pé, fazendo com que essa zona se aproxime ou contacte mesmo com o chão.

Este arco interno é rígido e elástico, composto por ligamentos, tendões e fáscia. Serve como uma base de suporte adaptativa para todo o corpo, funciona para dissipar as forças de sustentação do seu peso e armazena energia durante o ciclo da marcha.

Os principais sintomas

O principal sintoma do pé plano é a dor no pé, ao longo do percurso do tendão tibial posterior e incapacidade ou dor quando tenta colocar-se em bicos de pés, principalmente só com uma perna. Algumas pessoas têm os tornozelos virados para dentro, com a maior parte do peso na zona interna do pé.

Esta alteração da distribuição do peso pode resultar numa biomecânica anormal dos membros inferiores e assim provocar dor no pé, no joelho, anca ou mesmo no fundo das costas. Outros possíveis sintomas são:

• Edema (inchaço) na zona interna do pé;
• Rigidez de um ou de ambos os arcos dos pés;
• Contraturas nos pés e músculos do tornozelo;
• Distribuição desigual do peso corporal com desgaste da parte de dentro dos sapatos;
• Dificuldade em andar.

Mas porque é que isto acontece? Pode ser um problema congénito ou adquirido.

Problema Congénito

O pé plano é bastante comum em bebés, por não ligamentos, tendões e fáscias suficientemente rígidos para suportar o arco interno do pé. Mas a natureza é fantástica. Os bebés têm uma camada de tecido adiposo (gordura) nesta zona, que serve para a proteger durante a primeira infância.

A maioria das crianças desenvolve arcos normais aos 5 ou 6 anos de idade. A maioria dos casos de pés planos em crianças são flexíveis. Ou seja, sem carga nota-se o arco, mas em pé o arco desaparece.

Há uma pequena percentagem de crianças que não conseguem desenvolver um arco normal na idade adulta. A obesidade em crianças está significativamente associado ao desaparecimento deste arco na primeira infância. Daí ser tão importante supervisionar o peso das crianças, por isto e por muito mais.

Problema Adquirido

Ocorre frequentemente devido à disfunção do tendão tibial posterior. A função deste tendão é apoiar o arco (bem como a inversão e flexão plantar do pé, tipicamente a posição da bailarina). Quando o tendão não faz esta função, temos, lá está, uma disfunção.

Esta disfunção é mais comum em mulheres com mais de 40 anos de idade e com comorbilidades, como a diabetes e obesidade. Como vê, diabetes e obesidade são problemas que afetam muito mais do que poderíamos pensar ou prever.

O pé plano adquirido também pode ocorrer em pessoas com traumatismos no pé, principalmente quando há fratura e o osso não consolida corretamente. Outras causas incluem lesões nos tecidos moles, como a fascite plantar, ou artropatias (artrite por exemplo).

Há também uma série de patologias neurológicas que, por provocarem laxidão ligamentar, podem provocar pés planos.

É assim tão comum?

Cerca de 20% a 37% da população tem algum grau de pé plano. A maioria desses casos são pés planos flexíveis. Geralmente, é mais comum em crianças. Cerca de 20 a 30% das crianças têm pé plano, mas a maioria das crianças desenvolve um arco normal aos 10 anos de idade. Há uma forte componente genética no pé plano.

Como se deve tratar?

Crianças

As crianças raramente precisam de tratamento para pés planos. As palmilhas nos pés são benéficas no caso de ter dor no pé A cirurgia é indicada apenas para pés planos rígidos.

Adultos

Em adultos, o tratamento varia consoante a causa. As palmilhas e anti-inflamatórios podem ser suficientes para eliminar a dor. Mas tendo em conta que, nos adultos, o problema pode ser muscular (após disfunção do tendão tibial posterior), a fisioterapia pode ser uma boa opção.

Fisioterapia

Se o seu pé plano for adquirido, resultante por exemplo de um traumatismo ou disfunção muscular, a fisioterapia pode ser muito útil para resolver o seu problema, quer no curto prazo, quer para o longo prazo. Mas lembre-se, nem sempre um pé plano é um problema a ser resolvido. Há graus de pé plano que, por serem ligeiros, não provocam sintomas nem alterações da biomecânica do corpo.

Estes são alguns exercícios que pode fazer:

• Alongamento dos gémeos, solhar e curto peroneal;
• Alongamento do tendão de Aquiles;
• Exercícios de fortalecimento: Para o tibial anterior e posterior e para o longo flexor do 1º dedo, intrínseco, interósseo plantar e abdutor do 1º dedo;
• Ativação global dos músculos que suportam o arco interno;
• Apoio só numa perna, sem peso ao início e depois com peso;
• Andar em bicos de pés;

Para a propriocepção, caminhe com os dedos dos pés e também nos calcanhares. Pode também dobrar os dedos dos pés numa toalha.

Uma vez que estamos a falar de pés, nunca é demais reforçar a importância do calçado. Pessoas com pés planos podem precisar, numa fase inicial se for adquirido, de calçado que facilite a estabilidade e o controlo do movimento.

Por último, mas não menos importante. Pessoas obesas devem ser aconselhadas a perder peso, tanto pelo lado da alimentação, como pelo lado do exercício.