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Porque me doem os músculos se não faço exercício?

Ao passar muito tempo sentado, a musculatura responsável por estabilizar a coluna fica mais relaxada e enfraquecida, aumentando ainda mais as pressões sobre a coluna, o que facilita o aparecimento de dor.

Quando realiza atividades que ativam os músculos, beneficia tanto o coração como o “sistema de retorno sanguíneo”. O que é este sistema?

A importância do sangue voltar à “base”

Uma das características mais populares da falta de exercício é a chamada limitação periférica. Pessoas sedentários, que acumulam os efeitos das perdas funcionais pela falta de exercício, apresentam o conhecido quadro da dor muscular (mais nos membros inferiores), mesmo durante pequenos esforços. Isto acaba por ser o fator limitante da sua capacidade física.

Quando realiza um exercício, a prioridade é o ajuste do fluxo sanguíneo para os músculos. Rapidamente, o coração acelera e aumenta a perfusão dos músculos em atividade, levando oxigénio e nutrientes para a produção de energia. Ao mesmo tempo que a bomba cardíaca impulsiona o sangue para a periferia do sistema vascular, torna-se necessário existir um mecanismo que auxilie o retorno do sangue para o coração.

Este retorno do sangue é o resultado de um sistema de “bombeamento”, que conta com a participação de duas componentes: as válvulas das veias, que impedem o refluxo do sangue no sentido contrário, e a ação dos músculos, propulsionando o sangue através da sua contração, sendo a principal componente deste sistema. Simplificando, pode-se dizer que o coração manda sangue para os músculos e estes enviam-no de volta para o coração.

A ação contráctil dos músculos, fundamentalmente dos grupos dos membros inferiores, é tão importante que o seu papel é chamado “coração periférico”. Esta componente torna-se muito mais eficaz quando pratica regularmente exercício físico.

Por outro lado, quando deixa de praticar exercício devido a, por exemplo, um confinamento geral, ou se é sedentário há muito tempo, este sistema de retorno sanguíneo não funciona bem. Na prática, irá sofrer de dores musculares não por ser demasiado ativo, mas por ser demasiado sedentário.

Mas esta não é a única consequência de ter músculos fracos e inativos

É importante ter músculos fortes e ativos por outro motivo fundamental. Terá mais dores articulares se os músculos forem fracos. Porquê? Porque se não tivermos estabilidade ativa (músculos) vamos depender somente da estabilidade passiva (ligamentos e articulações), e estas estruturas não conseguem tolerar posições estáticas durante muito tempo.

De modo geral, estabilidade passiva é usar algo, para além dos músculos, para adotar e manter a posição desejada. A estabilidade passiva pode ser:

  • Anatómica (interna): Utiliza as estruturas de estabilidade passiva da pessoa, como cápsulas articulares, cartilagem e ligamentos;
  • Externa: Utiliza uma ferramenta externa para suporte extra, como um colete.

A estabilidade ativa refere-se ao uso dos músculos para manter a posição desejada. Mas se os seus músculos estão a “dormir”, serão as estruturas passivas a ter de suportar todo o peso do corpo na posição em que está no momento. Já sentiu, enquanto estava sentado, uma “pontada” nas costas, tipo queimadura? É algum ligamento ou cápsula articular a “pedir ajuda”, pois não consegue suportar a posição do corpo, sozinho.

Se os seus músculos estiverem ativos, não só terá menos dores, como também menos lesões.

As lesões como consequência da falta de ativação muscular

Se por um lado, o músculo é o melhor remédio para tratar problemas da coluna vertebral, lombar ou articulações, a sua falta é, por outro, altamente prejudicial.  Perder 5 ou 6 quilos de massa muscular devido ao sedentarismo é muito comum. Perder peso nem sempre é uma boa notícia.

Os músculos não servem só para uma boa performance. A coluna vertebral não é só ossos e discos. É um sistema muito complexo que envolve muitos músculos e ligamentos. Mas têm de estar reforçados, pois caso contrário, na sua ausência, existe uma sobrecarga mecânica ao nível dos ossos e das fibrocartilagens. E isso é um risco.

Esta é a razão pela qual o aumento do desenvolvimento muscular é um dos aspetos importantes para tratar a dor. Imagine um jogador de futebol, como o Cristiano Ronaldo, com a carga e intensidade de treinos e jogos, sem a massa e força muscular que apresenta. Certamente, teria um número de lesões muito superior ao que apresenta.

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