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Se tem uma perna mais curta do que a outra, isto é para si

A dismetria dos membros inferiores (ou perna curta) é uma alteração na qual as pernas têm um comprimento diferente uma da outra. É algo com que deve ficar preocupado(a)? Há tratamentos para corrigir este problema? É mais perigoso nas crianças ou nos adultos? Neste artigo dir-lhe-ei tudo o que precisa de saber, e no fim saberá o que fazer.

Quero já aliviar a sua preocupação. Sabia que 70 a 90% das pessoas têm uma perna mais curta do que a outra? Claro que esta alteração é diferente de pessoa para pessoa. Umas têm uma grande diferença, outras apenas uns milímetros. E sabia que há pernas curtas “verdadeiras” e outras “falsas”? Fique comigo, eu conto-lhe tudo o que precisa de saber.

Tipos de pernas curtas

Há dois tipos de dismetria, a anatómica e a funcional.

Anatómica

Também chamada perna curta “verdadeira“, ocorre quando uma das pernas é anatomicamente mais curta do que a outra. Isto acontece porque ou o osso fémur ou a tíbia são efetivamente mais curtos do que o seu homólogo. Isto acontece por vários motivos, um dos mais comuns são problemas congénitos (de nascença), ou então problemas adquiridos, como por exemplo depois de fraturas, traumas, doenças degenerativas ou complicações cirúrgicas.

Funcional

Na também chamada perna curta “falsa“, não há um osso mais curto que o seu homólogo. Pode ser causada por uma alteração nas pernas, como uma contratura muscular, desalinhamento do eixo mecânico estático ou dinâmico, fraqueza muscular ou encurtamento. E isto é muito importante: é impossível detetar estas alterações mecânicas nos exames, como a radiografia.

Factos Importantes

As pessoas que têm perna curta “verdadeira” têm mais facilidade em lidar com esta alteração comparativamente com pessoas em que esta diferença foi provocada espontaneamente (para efeitos do estudo). Os estudos são conclusivos, e a explicação é que estas pessoas tiveram mais tempo para se adaptar à diferença do que as pessoas que têm, de um momento para o outro, uma perna mais curta.

Pessoas que passam o dia todo em pé, assim como atletas de elite, tendem a sofrer mais com esta alteração. A razão, embora especulativa, pode derivar do facto de quem passa o dia todo em pé é tão sedentário como quem está sentado, com a agravante de a gravidade acentuar esta diferença com a carga sobre as pernas. Já no caso dos atletas de elite, a razão pode dever-se ao facto de levarem o corpo ao limite e, como já tive oportunidade de referir neste artigo, uma das situações onde o alinhamento das articulações é importante, é em esforços de grande carga e intensidade.

As pessoas com perna curta “verdadeira” conseguem tolerar uma diferença de até 2cm entre cada perna, através das estruturas passivas (articulações e ligamentos). Mais do que 2cm, os músculos começam a entrar em ação.

O que provoca a perna curta?

Anatómica

  • Crescimento anormal idiopático (sem explicação)
  • Fratura
  • Traumatismo na epífise do osso (numa das pontas)
  • Doenças degenerativas
  • Doença Legg-Calvé Perthes
  • Cancro
  • Infeções

Funcional

  • Encurtamento dos tecidos musculares
  • Diminuição do movimento das articulações
  • Laxidão ligamentar
  • Biomecânica do pé (pronação excessiva do pé)

Provoca dores?

Os estudos são pouco conclusivos. O que parece ser verdade é que estas dismetrias podem provocar uma ligeira escoliose lombar, por causa da rotação que provoca na bacia. Especula-se que esta rotação possa provocar artroses nas articulações da coluna lombar e sagrada, mas não há estudos conclusivos.

Também não foi provada, até hoje, ligação entre a perna curta e as dores lombares. Portanto, caso tenha dores nas costas, é pouco provável a culpa ser da perna curta que tem.

A perna mais longa está sob maior pressão na articulação da anca, e isso pode aumentar o risco de ter artrose da anca e, consequentemente, dores nesta zona. No entanto, os estudos não são conclusivos e ainda não se pode fazer esta associação.

Aparentemente, há maior risco de fraturas por stress na tíbia da perna mais longa, o que se justifica porque o peso do corpo está mal distribuído com sobrecarga na perna mais longa.

Há tratamento?

Para a perna curta “verdadeira”, não há um tratamento direto do problema, porque é impossível fazer o osso da perna curta crescer (excepto com cirurgia). Uma das melhores soluções é utilizar palmilha de compensação. Aconselho a consultar um ortopedista para lhe passar uma prescrição para fazer uma palmilha personalizada. Da minha experiência, o ideal é adquirir uma palmilha com metade da diferença entre as pernas. Por exemplo, se tiver uma diferença de 1,4cm, a palmilha deve ter 0,7cm de altura. Se tiver dores, a palmilha pode ajudar a reduzir as suas queixas.

Caso tenha uma perna curta “falsa”, deve consultar o seu fisioterapeuta. Como vimos, nestas situações o problema está relacionado com alterações articulares e musculares e, nesse campo, o fisioterapeuta é o profissional mais indicado para ajudar.

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